domingo

O melhor analista político de 2006

Vinga em todos os parâmetros: inteligência, massa crítica, imparcialidade e profundidade com que avalia os problemas. Esperemos que 2007 não o estrague, e não se esqueça da Filosofia, ciência estruturante que garante - também - todos aqueles skills de que é portador. Tudo isto faz de António Vitorino, sem sombra de dúvida, a revelação da Análise política do Ano de 2006 e uma permanente reserva da nação e uma promessa para o Futuro. A sua importância acrescida decorre também da circunstância de não ter querido o Poder, podendo tê-lo.

Breves balancetes de 2006

- Como pior notícia da Europa destaco a performance política de durão Barroso: inerte, sem visão, sem liderança, sem projecto, sem miolos. Apenas gerindo as despesas correntes da Comissão, mas que bem poderia ser a Feira de Carcavelos. By side, irrompe SLopes, seu fidagal inimigo político, é aqui eleito como o pior autor do ano editado com a chancela da comunista zita seábra hoje no psd. E porquê? Simplesmente, por continuar a confundir percepções com realidades.
- Souto Moura na esfera da Justiça representou aquilo que de pior ela pode ter: laxismo, irresponsabilidade, falta de autoridade, fugas de informação.
- Paulo Portas - é o pior comentador político, não apenas porque se aproveita de alguns recursos intelectuais para refazer a sua imagem junto da opinião pública, como procura racionalizar a plataforma que Balsemão pôs ao seu dispôr para minar o terreno no seu próprio partido. É, portanto, um fratricida da política em Portugal. Se amanhã tiver de vender a mãe para chegar a ministro jamais hesitará.
- Antónho Preto - é o pior deputado da AR, não apenas porque sobre ele impedem "n" acusações de corrupção mas também porque nunca ninguém soube o que pensa acerca de qualquer coisa. A imagem que fica quando tudo passar é a de que chegam à política os cola-cartazes e os corruptos do burgo. O hemiciclo carece de uma grande limpeza.
- Marques Mendes revelou-se o líder da oposição mais frágil, não apenas por lhe faltar imaginação e uma ideia estratégica para Portugal, mas também porque não tem autoridade no seio do seu próprio partido. Casos de corrupção deveriam ser imediatamente erradicados do psd, mantê-los é perder a escassa credibilidade que já se tem. Mendes nunca será PM de Portugal, o tempo triturá-lo-á.
- O grupo millenium - por ter aquela árvore no Terreiro do Passo - é o pior aborto da baixa lisboeta, sobretudo pela poluição visual que gera.
- Jerónimo de Sousa é o político mais retrógrado e estalinista do país, pois em pleno séc. XXI e em contexto de democracia pluralista deu-se ao luxo de expulsar duma autarquia (de Setúbal) um autarca legitimamente eleito - com a conivência local do ps e do psd num dos grandes crimes ao poder local desde o 25 de Abril
- Bernardo do pcp - é o deputado menos credível do país, seguido de a.Preto, porquanto ainda continua a defender que a Coreia do Norte e o seu líder são verdadeiros democratas. É pena já não haver gulags, senão seriapara lá qie deveriam ir, só com one way ticket.

O novo Mundo regulado pelo desregulador globalizante

Esta é uma imagem poderosa, nem sei bem como a descrever. Mas entre a grandeza e soberba de uns e a pequenez frágil de outros naquela "fábrica de salsichas" - resulta um mundo crescentemente desajustado, doente, injusto, desequilibrado, vingativo, mau sinalizando mais maus costumes e práticas do que bons sinais e sentimentos para o futuro próximo. Aquele enforcamento, sendo merecido pelo ímpeto dos homens e pela razão histórica, era evitável pelos "altos" padrões morais e éticos do edifício de direito e de justiça que criámos para o Ocidente europeu que integra hoje, bem ou mal, a matriz judaico-cristão de que somos oriundos.

Sucede que este desgoverno do mundo condensa ainda uma outra vertente igualmente grave: é que a política do Ocidente serviu um princípio fundamental de direito político, com base no qual todo o alargamento de poderes e de funções deve ser acompanhado de uma extensão da lei, a qual fixa as normas e limita os abusos e impõe as sanções. Ou seja, prevê a aplicabilidade de normas caso certos factos (desviantes) ocorram. Desse modo, à medida que se afirmou a influência global das decisões humanas, cresce a procura de novos órgãos legislativos e organizações internacionais que possam controlar o impacto social, económico, político, ambiental e militar daquelas decisões e, assim, direccionar as decisões do mundo em prol do bem comum. A isto se chama globalização feliz, globalização de rosto humano ou globalização positiva. Que é o que menos se vê na esfera da globalidade.

Mas será que é isto que vemos nos domínios económico, militar e político? É claro que Não, lamentavelmente. Se este foi um desígnio da ONU - formada após a II Guerra Mundial - que visava aplicar um direito internacional apoiado pelos tratados constitutivos, a prática política deste meio século tem provado que entre o direito proclamado e a realidade vivida existe um fosso terrível. Ou seja, a força jurídica da Carta da ONU não vale mais do que um pedaço de papel a que os EUA, Rússia, França, RU e RPC - os cinco grandes detentores da arma nuclear, limpam a boca em função dos seus apetites, caprichos e interesses. Basta que recorram ao seu direito de veto, tudo logo fica paralisado. É aqui que se percebe como a soberania de alguns Estados tem um valor muito superior à soberania de outros Estados, e que o direito internacional não passa duma intenção que todos desrespeitam.

Se um daqueles cinco grandes fosse convencido de que a utilização política indevida (e abusiva) do respectivo direito de veto teria como consequência a sua imediata expulsão do club dos grandes, talvez algo mudasse no plano global. Mas que critério temos para avaliar essa conduta? Quem seria o juíz que proclamaria essa sentença? Quem seria o Guarda do guarda, o Polícia do política? Hoje, e poucas dúvidas há a esse respeito, formou-se a ideia (consensual) de que são os EUA a potência que mais perturba a segurança e a paz internacionais, isto porque ela pretende resolver as suas disputas directamente, em termos políticos, militares ou económicos, e não no quadro multilateral da ONU - onde as regras do jogo seriam mais justas e equitativas. Sendo que a maior parte dos delegados que estão da ONU não representam os territórios ou os povos, mas sim os respectivos partidos, senhores ou ditadores que para lá os enviaram.

De que vale hoje as Agências especializadas da ONU - tipo Agência Internacional de Energia Atómica (AIEA) que fez um trabalho de inspecção no Iraque para detectar as fontes de armamento de que o Iraque era acusado, e depois G.W.Bush, de forma unilateral, e sem qualquer legitimidade política, resolveu intervir e invadiu o país... O resultado está à vista, com um saldo de milhares de mortos para ambos os lados, com um país em guerra civil e com gastos astronómicos para a economia e para o contribuinte norte-americano - recursos esses que poderiam ser aplicados na economia civil em todo o mundo.

Por outro lado, nem por isso decresceram os sinais de corrupção, dentro e fora da ONU, e Kojo, filho de Kofi Annan - agora de saída, foi indiciado dessa prática quando montou a campanha de trocar petróleo por alimentos. Facto que manchou a própria credibilidade do Secretário-Geral cessante. Portanto, nem a corrupção na ONU nem a sua própria burocracia facilitam o processo de tomada de decisões à escala global, e assim nem a paz se instala, a economia cresce e a prestação de contas se faz. Ou seja, não há desenvolvimento, justiça ou liberdade. Não há accountability, um termo nebuloso que significa responsabilidade, ou falta dela.

Isto leva-nos a crer que hoje organizações gigantescas como a ONU gera mais problemas do que as soluções que era suposto aplicar em prol do bem comum. São sempre os cinco grandes a determinar as regras do jogo, por vezes em áreas e em interesses alheios, os crimes contra a Humanidade ficam sempre por julgar, e quando esses crimes se julgam recorre-se à corda de enforcamento - ditada por outros tiranos já com o banho democratizado.

Tudo isto piorou à medida em que a legislação internacional passou a ameaçar a soberania dos pequenos países. Se bem que o pano de fundo da globalização feliz foi o de estimular a emergência de pequenos Estados, por regra ex-colónias que passaram a ter a sua própria independência e a serem soberanos. O que permitia a cada nação fazer as suas próprias escolhas em termos de futuro e não ser arrastados pela onda da globalização económica que tudo terraplana. Mas a ameaça terrorista alterou as regras do jogo, e cada um agarra-se hoje ao pedaço de soberania que tem ao seu dispôr, em lugar de teorizar a utopia da futura globalização feliz matriciada na concepção de Estado Universal do filósofo racionalista Immanuel Kant. Os Estados de África Negra e da Ásia têm sentido na pele essas discriminações. E até mais do que os Estados têm sofrido os respectivos povos.

Se aplicarmos este exemplo às práticas da Organização Mundial do Comércio (OMC) constatamos como os seus regulamentos acabam inevitavelmente por arruinar as suas débeis economias locais, que ora estão compelidas a competir em igualdade de condições com os grandes produtores da indústria agro-alimentar ocidental, maciçamente subsiada. Com a agravante de utilizarem culturas genéticamente modificadas, cujas patentes pertencem às multinacionais ocidentais, o que forçará, a prazo, os agricultores dos PVD a substituírem as suas velhas culturas por estas genéticamente modificadas - porque ao abrigo do sistema de Direitos de Propriedade Intelectual Relacionados com o Comércio Internacional, a comprar as suas sementes no Ocidente. Isto será a maior das heresias. Seria como instar o pedinte de rua que pague a refeição ao Belmiro alí no Club dos Empresários - na Av. da República. Uma vergonha...

Se apontarmos as baterias para as chamadas irmãs-gémeas do velhinho sistema de Bretton Woods (FMI, BM e OMC) ainda pior, pois apesar de serem organizações com o objectivo de gerarem um clima de estabilidade cambial e financeira mundial, são hoje consideradas por muita boa gente qualificada - como por ex. Joseph Stiglitz (nobel da Economia) - como instrumentos da opressão e de domínio dos EUA e do Ocidente em geral sobre o resto do mundo.

Outro exemplo desta assimetria entre grande e pequenos, decorre da proposta para a criação de um Tribunal Penal Internacional, um sonho da esquerda ocidental, visando substituir as guerras por processos judiciais e a acusar os beligerantes de crimes de guerra. Também aqui o senado norte-americano colocou reservas. Em matéria de limites de poluição de monóxido de carbono, idem aspas... Apesar dos EUA serem a potência que no mundo mais emissões de CO2 lança para a atmosfera.

O que pretendemos aqui referir é que enquanto a ONU e todo o seu subsistema de agências especializadas não for profunfamente reformado não saímos da cepa torta. Assim, atrevo-me a dizer que no plano internacional teremos mais do mesmo no ano que vai entrar.

PS:

A contrariar esta tendênca negativa da esfera da globalidade - vejamos este simples facto. Ontem, num Sábado em época de Natal, por mera curiosidade, verifiquei que o blog O Jumento (link) atingiu cerca de 1300 visitas. Se estabelecermos esse rácio de comparabilidade com o que se regista no Abrupto de JPP - tal significaria que o Jumento - por dia e durante a semana teria cerca de 30000 visitas dia. E já nem vamos aqui referir - rúbrica a rúbrica as valências de um e de outro, e só evocámos o blog de JPP - por reporte à personalidade do seu autor, e não à valia intrínseca daquele pasquim. Mas isto não deixa de reflectir bem a natureza das coisas e a forma como a rede reage a elas.

Especialmente num ano em que revista Times elegeu o utilizador como a personalidade do ano. Mas é óbvio que no meio da rede também haverá muito lixo, assim como no meio das páginas de jornais se encontra muito texto saído de jornalista que comem sorvetes com a testa. Alguns devem ser da escola do l.DElgado, o 2º jornalista português mais americano (ou americanizado) seguido de Nuno Rogeiro, o tal da conferência no Irão.

A arte e a techné do leitor deve ser a mesma da do ciber-utilizador, reside sempre numa coisa tão simples tão complexa: seleccionar os bons textos, infelizmente a imprensa escrita lusa não é lá muito profícua nisso. Não apenas pelo baixo índice intelectual e científico da maior parte dos jornalistas (por regra formados em tarimba e antiguidade, e saltitando de gabinete ministerial em gaminete secretarial), mas também porque são pouco criativos, e quando lhes dá para a criatividade geralmente sai borrada. Mas, caramba, nem tudo é mau no DN, que tem lá António Vitorino, que salva o convento.

Corpos sem história: "Cães danados" - de Quentin Tarantino

"Eles não se conheciam. Foram recrutados e realizaram o crime perfeito. Depois, o seu simples assalto explode numa sangrenta emboscada e os impiedosos assassinos percebem que um deles é um polícia infiltrado. Mas qual?
Aclamado pela crítica pelos seu poder frontal e ferocidade de cortar a respiração, este filme é um brilhante clássico dos filmes de gangsters americanos, do argumentista/realizador Quentin Tarantino. Do elenco fazem parte nomes como Harvey Keitel, Tim Roth, Christopher Penn, Steve Buscemi, Lawrence Tierney e Michael Madsen."
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  • Obs: Há muito que percebbi que a teoria política disponível não basta para explicar as barbaridades que transcorrem pelo nosso mundo. De súbito, evocamos cenas de filmes retomadas agora noutro contexto: o do enforcamento de Saddam por um Iraque americanizado e xiitizado. Surge um trio (ou um quarteto) conflitual de forma alguma redutível a um bando étnico ou a um grupo do tipo mafioso ou delinquente.
  • O que parece susbsitir naquele enforcamento é que o Ódio começa agora a exibir a sua assinatura, o nome próprio de cada um dos fautores da invasão do Iraque começará agora a ganhar letra de forma. É triste quando temos de reconhecer que a realidade já há muito ultrapassou a ficção, e mais grave ainda é quando Portugal (e a Europa, que agora lava as suas manápulas como Pilatos) tem um desses players envolvidos - ainda que indirectamente - na jogada sórdida da História recente do Iraque.

As opiniões redondas dos articulistas de serviço

(...)

Portugal terá sempre muito menos influência na Net que os EUA, por exemplo, mas mais que o Sudão. As excepções, a influência política através da Web, são ainda isso mesmo, excepções. (...)

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  • Este senhor, que não conheço, só de vista dumas apreciações mui modestas e genéricas em matéria de análise política doméstica dadas à sic na semana passada à propos dum tal partido do táxi, é o director-adjunto do dn, lugar de responsabilidade. Ontem escreveu esta sensaboria acerca da rede das redes. Tem também um blog, denominado frenchkisse, fui lá ver e fiquei esclarecido. Gostava de dizer daqui ao Sr. Fernandes, que a densidade intelectual do que por lá escreve está na razão directa deste seu artigo, e ambas as leituras convergem com os comentários banalíssimos que no outro dia teceu na sic sobre o cds/pp. De modo que até sou capaz de concordar com ele: a net, ou a web 2.0 por vezes é mesmo um "amontoado" de coisas sem sentido, como ele diz. Eu substitui deliberadamente um termo para não ser ofensivo.
    Lendo este seu artigo fica-se a saber o seguinte: a net é um monstro, o Youtube é um equívoco, e, agora, com o Rizoma, violam-se muitos direitos de autor e desprestigia-se a propriedade intelectual, além de se dar cabo da democracia. Este jornalista anda equivocado: já se violavam direitos de autor antes da emergência do Rizoma, e muitas dessas violações emanavam, pasme-se, de jornalistas intelectual, técnica e culturalmente impreparados que copiavam sem citar a fonte ou omitiam deliberadamente a matéria-prima que lhes servia de regaço para as suas prosas; o Youtube, ao invés do que diz, faz mais num dia do que o dn numa década; e a democracia está em perigo mas é por outras razões, uma das quais decorre da pressão constante da Democracia de Opinião sobre a Democracia Representativa obrigando os dirigentes políticos a prometerem aquilo que sabem não poder cumprir. E fazem-no porquê??? É simples: para ganhar eleições.
    Mas isto já não deve ter passado pela cabeça do referido jornalista que ali articula um conjunto de banalidades - todas refutáveis no plano dos factos, da teoria política contemporânea e até ao nível epistemológico. Sugeríamos, pois, ao jornalista, dadas as responsabilidades que tem (ou parece ter), que fosse menos apressado e leviano nas apreciações genéricas que faz acerca do tal paradigma escondido.
    Momentos há em todos temos de ser intelectualmente mais humildes e concretos, generalizar é um erro crasso que só dá jeitaço aqueles que vêem o tapete fugir sob os pés. É que a jornalada cada vez vende menos, e tudo se faz para descredibilizar toda a blogosfera, como se ela fosse toda igual, em bloco. Não é! Tal como a imprensa, temos de saber escolher e filtrar, senão comemos lixo por coisas boas, e isso ninguém quer. Por isso, até compreendo aquelas palavrinhas de lana-caprina. Já agora, dizemos daqui ao jornalista do dn, sem qualquer animosidade, que estude umas coisas, até porque a importância das pessoas não se mede pelos artigos que se escrevem no dn ou pela qualidade de certos blogues. Se assim fosse, este jornalista estaria já arrumado e catalogado. E só não lhe indicamos aqui uns blogues para não o envergonhar.
  • Daqui deduzo que há jornalistas que quando escrevem não o fazem só no intuito de descredibilizar a blogosfera, de forma (in)consciente acabam também por não valorizar a mediacracia, i.é, o jornalismo clássico donde mandam bitaites - acabando por dar tiros nos dois pés. E é pena...

A violência das Imagens. O que fica do que passa

O que fica do que passa? Será que é mais violento ver à hora de jantar centenas de crianças curdas - a Norte do Iraque - bárbaramente assassinadas a mando do ditador que ontem foi enforcado, ou ver a sua própria imagem na antecâmara da morte suspensa por uma corda de cacilheiro?
Confesso que ambas as imagens me geram repulsa, mas também que ambas são imagens duma violência atroz de difícil arrumação mental no tempo em que vivemos. Um tempo em que as intituições se regulam pelo Direito, pela separação de poderes, pelo civismo e respeito pela identidade do outro e de mais umas quantas balelas, verdadeira letra morta em certos países.
Creio que com essa decisão foi mais o Ocidente que foi julgado do que o tribunal fantoche iraquiano, que não passou de uma obscenidade de todas as estruturas num universo desestruturado, pautado pelo horror das imagens que nos fornece e da correlação que imediatamente se estabelece entre o que é político e o que emana do casulo do terror. Por isso a política hoje infunde medo, ódio, nojo, catástrofe às pessoas..
Consabidamente, a violência gera medo, mas não unicamente naqueles que são enforcados, queimados, baleados, regados com gasolina e depois carbonizados vivos e o mais... A violência é um virús de assassinos natos, alguns comandam o aparelho de Estado de certas potências, e a partir daí procuram impôr a sua cosmovisão à outra parte do mundo.
Todos sabemos que Saddam é um ditador facínora que a história um dia havia de condenar, mas não dessa forma bárbara - que só serviu para mostrar ao mundo quanto a América de Bush, Blair, Durão barroso e Aznar - os fautores da Cimeira dos Azores que preparou o caldo da guerra - sem qualquer legitimidade - usam e abusam duma concepção do direito e da justiça que em tudo se lhe assemelha. Isto leva-nos a supôr que a violência não instiga medo naquela que mata, ela infunde também medo naqueles polícias do mundo, burocratazinhos bruxelenses e políticos em fim de carreira insulares - que hoje vivem mais assustados do que tranquilos.
Aquele enforcamento não mostra apenas o estertor exercido sobre um canalha da história contemporânea, revela também como Bush, durão barroso, Blair e Aznar - que criaram o contexto político da guerra ao Iraque (ilegítima, por sinal, como provou a Agência Internacional de Energia Atómica dirigida por ElBaradei, nobel da Paz em 2005 - ao provar não exisitirem armas químicas no Iraque nem nenhuma conexão de Saddam a Bin ladden) à margem da ONU e do direito internacional, nutrem pulsões de morte que os impele para matar - matando assim o inimigo que se constituiu como (suposto) obstáculo. E digo suposto, porque o verdadeiro obstáculo ainda anda a monte (bin), e qualquer dia aparece na Sala Oval com uma plástica replicada de G.W.Bush.
Pelo que a questão essencial que se nos afigura pertinente é: não tanto saber porque Saddam foi enforcado, mas identificar as razões que consomem a mente e o corpo d'alguns policiazinhos deste mundo de canalhas legitimados pelo direito mas que envergonham os países e os povos em nome de quem tomaram tais decisões.
Antes de a corda esticar, cair o pano e se fazer escuro pensei que a violência só pode gerar mais violência, e que ela neste caso é proteiforme, o que me pode fazer supôr que aqueles carrascos que ladeavam o ditador também têm nome: EUA, Europa, RU e Espanha. Dito isto chegamos à conclusão maior: a megalomania e o narcisismo do quarteto da desgraça.
Doravante, talvez o maior dos pecados é todos termos visto isto. Será essa memória e consciência planetária que tudo legitimará de futuro nos terramotos da morte institucionalizada que esta Humanidade anda pra aí a criar. Será isto que fica do que passa: o registo na memória.

Risadas bombeirais

Tenho a impressão que quando o ministro da Administração Interna - António Costa - vir este vídeo terá o problema dos incêndios resolvido.

Concejal de La Coruña Gonzalez Garces

A morte

Temos aqui dito que a Filosofia é crucial porque ela é uma espécie de curso de preparação geral para a morte. Não a morte de cólera ou de raiva, ou resultante de termos cometido uma maldade terrível e paguemos por isso na hora da verdade. Reporto-me à morte natural, aquela que vem a cavalo no tempo. Aquela que aguarda os velhos na soleira das portas, e espreita os jovens mais de longe. Mas é sempre impiedosa.
Talvez por isto, que é uma fatalidade, não compreenda por que razão muitas pessoas queiram morrer saudáveis e ricas... Não são essas condições que lhes conferem mais longevidade. Além de que impressiona os mortos não se mexerem. De modo que a vida é um pequeno estertor que todos os dias nos vai matando um bocado. Há dias que mata mais do que outros. Ninguém, nem mesmo Bill Gates ou Manoel de Oliveira, um por ser o homem mais rico do mundo, o outro por filmar perto dos cem anos, poderão um dia dizer que são imortais, posto que se matam aos poucos dia-a-dia. É algo que está inscrito na ordem natural das coisas.
O problema, como me pareceu na gratuitidade deste enforcamento de Saddam, demonstrando-lhe que a Justiça do seu país é tão pulha quanto ele, é que quando a morte não está saciada, inventa uma guerra. Uma guerra que certamente se alimentará dum ressentimento que irá alastrar e engordar ainda mais o ciclo da violência no Iraque e na região do Médio Oriente - que infunde insegurança a todo o mundo.
Morrer nunca deixa de ser um desaparecimento. Obviamente que o enforcado não deixará algumas saudades, mas a morte em geral é sempre algo que sucede na hora errada e no local errado. E, para ironizarmos um pouco com esta "tourada" do que é a Justiça no Iraque, a liderança norte-americana, ou a gestão canhestra de Durão na Europa - diremos que não se devem mandar flores aos mortos que sofrem de asma dos fenos.
E quanto ao epitáfio do energúmeno que matou e chacinou milhares de homens e mulheres, crianças, adultos e idosos no seu próprio país - também já temos narrativa: Não matou tudo o que quis, mas fez tudo o que põde...
A morte, além de ser sempre uma surpresa para quem morre, mesmo nos casos mais previsíveis, é sempre um assunto pessoal e intransmisível. E se sonhar que morremos ainda é de somenos. Pior é quando acordamos com o barulho de muita gente a festejar a nossa morte.
Talvez por isso a melhor maneira de entrar num cemitério, fica aqui a nota, é nunca entrar deitado... E o problema é que "ela" é hereditária.

Uma carta antes da morte - por Caryl Chessman - o famoso "lanterna vermelho"...

Cary Chassman explicando os seus argumentos em tribunal
Em Novembro evocámos aqui o significado dos alegados crimes praticados por Caryl Chessman, explicados no seu livro Cela da morte, 2455. Até ao fim Caryl reclamou a sua inocência, sem sucesso. Já na prisão prescindiu de defesa, assegurando essa prerrogativa por sua conta e risco. Dentro das quatro paredes lera milhares de livros de direito, revelou ser um homem inteligente, culto e determinado. Mas sofreu a pena de morte, apesar das reservas sobre a autoria dos crimes que lhe eram imputados.
Seja como for, e sem que daqui decorra alguma verosimilhança com aquele que hoje foi enforcado - num modelo de justiça medival e vingativa que jamais levará a algum lado, achamos oportuno republicar aqui a carta escrita pelo punho de Caryl Chessman, pois ela é reveladora de muita coisa acerca da condição humana, de nós próprios.
Ela serve, acima de tudo, para nos questionarmos - sob certas circunstâncias (naturalmente) - que carta escreveríamos na antecâmara da morte...
Vejamos
a carta manuscrita por Chessman horas antes de sua morte e endereçada a um repórter do jornal San Francisco Examiner. Publicada na edição do dia seguinte à execução de Chessman, a carta-testamento afirmou-se como um dos mais vigorosos libelos contra a pena de morte (que comungamos).
Ei-la:
"Caro Sr. Stevens:
"Como deve saber, os carrascos, na Califórnia obedecem a horário de bancos. Nunca executam alguém antes das dez da manhã e nunca depois das quatro da tarde. Quando ler esta carta, já eles me terão executado. Terei trocado o esquecimento por um incrível pesadelo que durou 12 anos. E o senhor terá presenciado o ato final ritualístico. Espero e confio em que o senhor será capaz de transmitir a seus leitores que morri com dignidade, sem medo animal e sem bravatas. Devo isto a mim mesmo, mas devo mais a muitos outros. A hora da morte chegará a mim dentro de poucos minutos. Resta-me de vida, segundo suponho, menos de dezoito horas. Passarei estas horas numa das celas, a alguns passos da câmara de gás".
"... Eu desejava continuar vivendo. Acreditei apaixonadamente que poderia oferecer uma contribuição com meus livros, não só à literatura, como à minha sociedade. Eu estava determinado a retribuir, assim, às milhares de pessoas de tantas nações que me defenderam e acreditaram em Caryl Chessman como ser humano. Eu teria tido grande satisfação e um sentimento de nobres objetivos se tivesse sobrevivido, para justificar seu compreensivo julgamento. Mas um severo destino, revestido de roupagens jurídicas, decretou minha morte numa pequena sala octogonal, pintada de verde".(...)
"Chegou a hora, em suma, de morrer. Então assim acreditam muitos funcionários da Califórnia o Estado estará vingado e vingado estará seu sistema de Justiça retributiva. O Estado terá acalmado seu espírito de vingança. Mas, vingança contra o quê? Câmaras de gás podem matar gente e não contrafações de sinistros e arrependidos criminosos lendários, "monstros mitológicos".
"Face a face com a morte repito enfaticamente e sem hesitação: jamais fui o famoso "bandido da luz vermelha". O Estado da Califórnia condenou o homem errado, teimosamente recusou-se a admitir a possibilidade de seu erro, e muito menos, a corrigi-lo. O mundo terá em tempo provas deste monstruoso e selvagem erro. Não se orgulhará desses fatos. Mas, ponhamos aqui de lado a questão de culpa ou inocência. O que me impele a escrever esta carta é minha firme convicção de que neste drama está envolvido algo mais que a morte de um homem.
"(...) Vou morrer com conhecimento de que deixo atrás de mim outros homens vivendo seus últimos dias no corredor da morte. Declaro aqui que a prática de matar ritualmente e premeditadamente outros homens envergonha e macula nossa civilização, sem nada resolver contra aqueles que se lançam violentamente contra a sociedade e eles próprios.
"Assim, poderemos encontrar solução racional e humana para o problema que a sociedade deve fazer com tais seres humanos. Este problema não deve jamais ser enterrado juntamente com o homem executado e suas vítimas. Ele não será enterrado junto comigo. Escolhi meu próprio caminho para chamar a atenção mundial para os corredores da morte e câmaras de gás. Não encaro a mim mesmo como um herói ou mártir.
Pelo contrário, sou o louco confesso, profundamente consciente da natureza e qualidade dos loucos erros cometidos em meus anos de rebelde juventude. Não espero parecer grandiloquente e didático. Mas, estas são crenças que ardem dentro de mim mais luminosamente que a minha esperança de sobreviver. Morrendo, devo reafirmar esta crença e exprimir minha última esperança de que estes que saíram em minha defesa continuem lutando contra as câmaras de gás, contra os carrascos e contra a justiça vingativa. Certamente mereceremos algo melhor. Extingue-se meu tempo. Devo encerrar aqui minha carta.
Sinceramente,
Caryl Chessman.

sábado

A megalomania e o narcisismo do quarteto da desgraça

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Por mais teoria e factualidade política que se debite à propos das condições que prepararam e executaram a guerra ao Iraque só se pode, com bom senso, chegar a uma conclusão: a megalomania e narcisimo destes quatro cáfilas fizeram a insegurança internacional (com a consequente crise económica) em que hoje o mundo vegeta. Vivemos hoje todos de forma mais insegura, temos todos mais medo e vivemos também com menos investimentos e somos mais pobres.
Na sequência dos bárbaros ataques do 11 de Setembro de 2001 - em que a América perdeu o mito da invencibilidade no seu próprio coração comercial, económico, político e simbólico - além das cerca de 4000 pessoas inocentes que então sucumbiram naqueles escombros, os EUA resolveram invadir o Afeganistão e o Iraque. Num caso porque se tratava de um Estado-santuário do terrorismo que directamente fomentava o treino e as acções terroristas para aniquilar a América e o Ocidente, além de ser para lá - nas montanhas do Afeganistão - que o terrorista-mor, Bin Ladden - líder da Al Qaeda - se escondera; noutro caso porque se suspeitava que Saddam tinha estreitas ligações a essa rede de redes - a Al Qaeda - e albergava no seu país armas nucleares, químicas e bactereológicas que poderíam representar um perigo maior para a Humanidade. O idiota da Casa Branca misturou as coisas, e agiu a quente confundindo alhos com bugalhos. Parece que já é habitual.
Para esbater essas dúvidas a ONU de Kofi Annan (que cedo percebera as motivações belicosas e vingativas do idiota locatário da Sala Oval, que queria vingar o pai) mandou instaurar um sério inquérito levado a cabo pela Agência Internacional de Energia Atómica (dirigida pelo Sr. ElBaradei/Link), que até foi Prémio Nobel da Paz em 2005. Deslocada ao terreno com técnicos especializados, e depois do jogo do gato e do rato entre saddam e bush, concluiu não existirem aquelas armas que Washington DC tanto desejaria que existissem a fim de legitimar políticamente a intervenção no Iraque e destruir o regime iraquiano e matar Saddam. Tudo, claro está, à margem da ONU, do CS (que mereceu a oposição da China, França e Rússia) e à revelia do proclamado Direito Internacional Público - que não passa duma treta que se aprende nos bancos das faculdades mas que na vida real só serve para limpar o rabo, e é depois de se lhe tirar a goma... Em vez de se acabar com a Filosofia no Secundário melhor seria extinguir esta cadeira, por ausência de aplicação e sucessivo desrespeito.
A par disso, o então secretário de Estado Collin Powell - homem inteligente, credível e moderado - reconheceu que as conclusões manhosas a que a CIA chegou para agradar ao idiota da Sala Oval, além de não colherem fundamento nos factos - eram motivo de chacota na cena internacional, e não foram poucos os cartoons, os outdoors, os mails e demais material virtual que inundou o ciber-espaço denunciando esse ridículo tão doentio quanto estúpido que só existia na cabeça dum homem tão doente quanto saddam, com a diferença de que apenas liderava a maior potência do mundo e é uma democracia: a América.
O resultado disto conduziu a um gradual afastamento de Collin Powell - que cedo percebera a natureza "fascista" dos profetas neocons que tomaram conta da Casa Branca. O resultado só poderia concluir pelo seu afastamento, o que sucedeu quando o 2º mandato, infelizmente, deu nova maioria ao alcoólico da Sala Oval, em detrimento do candidato Democrata, John Kerry. Em seu lugar, uma académica, Condoleza Rice, assumiu a pasta. A mesma que iludiu Freitas do Amaral no caso dos vôos da Cia que servem hoje de gincana política entre a Europa de fujão Barroso (que assim distrai o mundo ante a sua incompetência e inércia) e alguns governos europeus.
Hoje, diante todos estes factos manhosos, e apesar da invasão do Iraque pela América de G.W. Bush, o Iraque está imerso numa guerra civil, os soldados norte-americanos morrem que nem tordos (como refere o Jumento naquele seu lúcido editorial (Link), a paz na região está ameaçada, o conflito israelo-árabe é um poço de conflitualidade (agravada desde a morte de Arafat), o petróleo beneficia e enriquece sempre os mesmos tiranos árabes (amigos da família Bush), a insegurança no mundo cresceu exponencialmente, e, ridículo dos ridículos, a cabeça da hidra - Bin Ladden - continua a andar por aí de satélite na mão, dando conferências de imprensa que depois envia em cassetes para serem lidas pela cadeia de tv Al Jazira - como se dum puzzle se tratasse a entreter o mundo.
Apesar de todo este dantesco cenário a que é que o mundo assiste? À setença do enforcamento de Saddam para daqui a um mês... Brilhante!!. É evidente que nada desculpará os crimes bárbaros cometidos por este energúmeno da história, mas, noutro plano, porque em contexto democrático, G.W.Bush, durão barroso, Tony Blair e o inepto Aznar - foram também corresponsáveis de tudo aquilo que se precipitou depois.
E tal deve-se, numa palavra, a um sentimento comum que toca aqueles quatro amadores da política que mancharam a transição do século e a entrada da Humanidade no III milénio. O orgulho egoísta, a ambição desmesurada, a ganância, a gula pelo poder, a soberba, aquilo que os psicanalistas definem como um padrão de vida narcísica.
Vejamos: Bush vivia obcecado com o 2º mandato; durão barroso é um aborto político de Bush recuperado in extremis na Cimeira dos Azores - atormentado com uma carreira na Europa; Blair fez o papel de idiota útil (como diria Lenine, qual espécie de lacaio de luxo da Sala Oval que tudo faz para agradar a Washington); e Aznar é tão estúpido que a 1ª coisa que pensou - post-factum - aquando do atentado de Madrid de 2003 - foi imputar o acto terrorista que fez 200 mortos à ETA, que o fez perder as eleições para o socialista Zapatero. Todos eles foram atravessados por esse egoísmo e perfídia comum.
Todos eles estão hoje em quebra acentuada de popularidade e a um passo de irem parar ao olho da rua do poder - que jamais devriam ter assumido.
É gente que se adora a si mesmo, ama o seu reflexo mas depois vive rodeado de suspeitas sobre si mesmo. No fundo, o mundo está hoje mais inseguro, pobre e perigoso, não apenas porque as forças do mal nos atingiram a todos, mas também porque a megalomania daquele execrável quarteto viu nas acções que empreendeu a única forma de sanidade mental do mundo esquizofrénico que acabou por gerar.
E tudo para quê??? senão para que a América de Bush planeie e programe a retirada deste novo Vietnam. Afinal, quem deveria ser julgado: Saddam, ou, também, aquele quarteto da desgraça?
  • PS: agradeço ao Jumento aquela sua realista reflexão sobre o Iraque, postada infra. Se não fosse esse texto jamais teria feito esta análise. Em seu lugar estava a pensar falar no menino Jesus, no sentido da vida, na recriação do novo tempo e o mais próprio da época. Mas logo os factos me empurraram para dissertar sobre os actuais pulhas da história que operam em contexto democrático. A estes o sentido da História também os julgará. Soon, quite soon..

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O editorial do Jumento. A foto é da responsabilidade do Macro

Da esquerda para a direita: zé das fritas cherne de Bruxelas fujão barroso, a arrastadeira Blair, o idiota da sala Oval, o espanhol azneirado. Da direita para a esquerda: quatro idiotas, um usa gravata vermelha - evocando os tempos do maoismo.

Nota prévia:

Em ver de se ler as tretas do que os generais de aviário, comentadores de Domingo, articulistas e articuletas que colonizaram em regime de avença os dn, públicos, espessos, soís e demais papelada é um exercício bastante mais profícuo e enriquecedor ler certos blogues. A única desvantagem é isto não render "pilim", o que significa que certa certa gente só trabalha com dinheiro à vista; e outros - aqui pela blogosfera - empregam os seus recursos intelectuais no ciber-espaço de forma tão gratuita quanto generosa. Tenho para mim que certos bloggers já estariam multi-milionários se facturassem na proporção directa do seu talento. Quanto aos gatos pingados que escrevem no jornais de papel - com honrosas excepções, são isso mesmo: uns gatos pingados avençados. Envergonhar-se-íam se soubessem a jana que valem. Muitos fingem até não ler ou conhecer certos blogues para assim terem a desculpa perfeita para se popuparem a esse enxovalho intelectual. São os cáfilas do novo tempo.

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Editorial do Jumento

Xiitas 1 - Sunitas 0

Saddam Hussein era um canalha, logo, a execução de Saddam Husssein foi a execução de um canalha, há menos um canalha no mundo, o que não significa que o mundo passe a estar melhor frequentado. Na verdade Saddam foi executado por e a mando de outros canalhas, foi condenado pela morte de 148 xiitas, tantos quanto os sunitas que os esquadrões da morte xiitas matam em menos de uma semana.

Num país onde a vida é um dos bens menos valorizados parece-me irrelevante discutir a execução de Saddam na perspectiva da legitimidade da pena de morte, por ali todos os que nascem ou vivem estão, por defeito, condenados à pena de morte, se são ou não executados isso é mais o resultado de um jogo de roleta russa praticado à escala de um país.

Não sei se o governo do Iraque vai ter a amabilidade de oferecer a corda com que enforcou George Bush, mas deveria fazê-lo, essa corda deveria estar em lugar de destaque na sala de estar do rancho texano da família Bush. O filho idiota e menos pródigo da família conseguiu completar o trabalho do pai, a corda é o símbolo de um dos momentos mais altos da vida de um idiota.

Em termos internacionais pouco mudou com a morte de Saddam, não passou de uma vitória com sabor a vingança dos xiitas sobre os sunitas. A execução do ditador iraquiano concretiza um negócio inesperado, os americanos ficam com a corda, os xiitas festejam a morte do seu inimigo e o Irão fica com o controlo de uma boa parte do Iraque, do pouco que não está sob controlo dos terroristas.

Já morreram mais americanos no Iraque do que no 11 de Setembro, mais dia menos dias terão havido mais vítimas iraquianas do que as que resultaram de décadas de ditadura de Saddam, mais tarde ou mais cedo os EUA irão abandonar o Iraque ao terrorismo e a uma guerra civil insolúvel que só poderá levar a um conflito regional. Para acabar com um canalha os americanos criaram uma dúzia deles, destruíram um país, promoveram o terrorismo e um conflito quase insolúvel, o que divide palestinianos e israelitas, acrescentaram um outro de maiores dimensões e de limites regionais ainda por definir.

A morte de um canalha como Saddam não tornou o mundo nem mais justo, nem mais seguro, um canalha na prisão é muito menos perigoso para o mundo do que um idiota na Casa Branca.

Letras & sons do nosso mundo

Ao amigo Zé Costa que foi uma pérola entre pérolas cantando estes sons e letras do outro mundo que é, afinal, o nosso.
MARTINHO DA VILA - MULHERES
Frank Sinatra - My Way

sexta-feira

Todas as cartas de Amor são ridículas... Meus Senhores: Lisa Stansfield mostra como se canta

Love Letters - An Animated Proposal

Lisa Stansfield / All Around the World

Lisa Stansfield - This is the rigth time

Lisa Stansfield / Let's Just Call It Love

Lisa Stansfield - Someday I'm Coming Back

Um retrato do Brasil, hoje..

No ataque mais mortífero, homens fortemente armados obrigaram dois autocarros de passageiros, um local e outro interestadual, a pararem na Av. Brasil e assaltaram todos os ocupantes. Depois, para terror dos 28 passageiros do autocarro interestadual (o outro estava vazio), um dos bandidos voltou com um bidão de gasolina, derramou o combustível pelo veículo e sobre os passageiros e ateou-lhe fogo. Apavoradas, as pessoas partiram os vidros e saltaram pelas janelas, mas sete não conseguiram sair e morreram carbonizadas tendo várias outras ficado feridas. (...)
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  • Obs: Ao ver aquelas imagens tão violentas quanto gratuitas do Rio lembrei-me como o mundo actual ainda é caracterizado ao mesmo tempo pela integração mundial e pelas desintegrações nacionais em que o Brasil representa o paradigma invertido. Ali uma cortina de platina serpenteia pelo mundo, cortando zonas, cidades, ruas, avenidas, bairros - para ricos e pobres de todo um imenso País que mais parece um Continente. A violência telecomandada a partir das favelas, reflecte em si o isolamento de algumas pessoas dentro do próprio país, que alí está dividido entre ricos e muitos pobres, numa espécie de gulag tropical. E a miséria, a não integração social - aliada a uma tradicional vontade de exercer a violência com as autoridades - só pode gerar experimentalismos daqueles que vimos. Para nós aquilo é um horror, para os habitantes das rocinhas aquilo não passa duma richa de vizinhos desavindos. Parece que alí as ilhas de pobreza não conduzem à contemplação, levam antes aos molotoves que, infelizmente, geram mortes de pessoas inocentes e de forma trágicamente gratuita. O Brasil ainda tem dentro de si coisas do outro mundo...Um mundo de trevas

António Costa encomenda estudo...Esperemos que não resulte em Livro

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Obs:
  • Até que enfim encontramos alguém em Portugal preocupado com a qualidade do tipo de investimento externo atraído para o País. Esperemos agora que o resultado desse estudo não redunde em (mais) um Livro... O que nos vale é que este ministro é pau para toda a obra: incêndios de Verão, cheias de Inverno e agora mais este estudo acerca de perfis sociográficos dos nossos irmãos e irmãs que puseram de sobreaviso as Mães de Bragança. Confesso que certos aspectos da governação lusa parecem-me mais fenómenos do Entroncamento. Enfim, é o País que temos, as "colónias" além-mar que gerámos...
    E qualquer dia Manel Pinho, ministro da Economia, fica mesmo sem pasta..por falta de objecto.

Um melhor 2007: mais tempo com os problemas...

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Qualquer pessoa, empresa ou país precisa sempre de duas coisas essenciais: explorar algo para se tornar realidade; e criar/transformar essa realidade em algo com utilidade geral, com valor económico. A vida empresarial tem sido construída nestas "explosões" de criatividade, seja por recurso às tecnologias, às pessoas, aos capitais - ou a ambos de forma articulada.
Se dissermos que as empresas internacionais sabem criar - ao invés das nossas - que não foram treinadas para conceber - não andamos muito longe da verdade. Os portugueses também não foram educados assim, para a inovação constante. Isto porque existe uma grande resistência e inércia em nós e receio ante o desconhecido e a incerteza. E é essa necessidade de reduzir o medo e a incerteza que nos leva a ser como somos: temeratos e pouco criativos ou inovadores.
Nesta conformidade, pergunta-se: o que faz falta a Portugal? Ideias de gestão, frenesim de reengenharia, explosão de eficiência, um mar de criatividade, renovação... Repetição, imitação. Einstein dizia, com graça, que o único sítio onde o sucesso vem antes trabalho é no diccionário.
Mesmo assim, há já empresas portuguesas que seguem à risca aquele padrão de produtividade e não conseguem ter sucesso e vingar nos mercados. Essas, certamente, caíram naquilo que se chama armadilha da competência. E é aqui que se cai no dilema do empreendedor, ou seja, se por um lado a inovação e eficiência de gestão são indispensáveis, por outro lado elas interferem com as rotinas da produção e podem levar ao fracasso. Quer isto dizer que seguir à risca uma estratégia cega de sucesso pode, por vezes, cegar, pode ser o próprio inimigo das nossas próprias empresas.
No final dos anos há sempre aquela tendência meio parola de fazer balanços e, ao mesmo tempo, sugerir caminhos a seguir para o futuro. Não é esse o nosso propósito nesta simples reflexão. O que apenas procuramos enfatisar, sobretudo nesta época de incerteza e até de crise em que se encontra o nosso País, as nossas empresas e os portugueses em geral - é que, de facto, a tarefa mais difícil não consiste em aperfeiçoar o que já conhecemos, mas em criar o desconhecido, encontrar novas ligações para as coisas que inventamos ou produzimos, ou seja, fazer como o tal jovem economista (Steven Levitt) - encontrar o lado escondido das coisas. Ele, pelo menos, teve suscesso, ainda que outros antes dele o tenham escrito com mais solidez.
E em Portugal - seja ao nível da grande empresa, seja no plano da micro-empresa, temos de encontrar melhores plataformas de comunicação de forma a que as organizações desenvolvam perspectivas de funcionamento e de vida a mais longo prazo, e não multipliquem actos de deslocalização como quem muda de camisa.
Afinal, o que pretendemos dizer é que a inovação não é uma coisa só para génios nem exige só perfeição, a inovação exige, essencialmente, persistência.
Não é que eu seja muito inteligente, consigo é conviver mais tempo com os problemas, disse um dia Einstein.

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Duche escocês - por António Vitorino -

Duche escocês
António Vitorino
Jurista
O ano que ora termina foi fértil em debates sobre uma infinita lista de estatísticas e rankings da mais diversa natureza. O défice do Estado e a dívida pública ocupam lugar cimeiro, graças à visibilidade do Pacto de Estabilidade e Crescimento. Mas muitos outros indicadores foram desfilando diante dos nossos olhos ao longo dos meses: graduação das escolas, taxa de abandono escolar, progressão da penetração da banda larga, consolidação da queda da mortalidade infantil, perda relativa do PIB per capita em relação à média da União Europeia alargada e tantos outros.

A profusão destes dados e seu tratamento comunicacional é, em si mesma, um dado positivo: a sociedade aberta é aquela que disponibiliza ao conjunto da comunidade os instrumentos para o exercício de uma cidadania activa, consciente e responsável. Aceder aos dados de facto significa fornecer os elementos de reflexão em função dos quais cada cidadão avalia a situação do País e a sua própria condição pessoal e familiar e assim determina a sua conduta futura. No caso português isso ainda é mais relevante, na medida em que até há poucos anos o acesso a alguns desses "insignificantes" dados estatísticos era quase impossível ou, no mínimo, muito dificultado, fruto de uma cultura administrativa de secretismo. A pertença à União Europeia, nestes últimos 20 anos, veio modificar em larga medida este estado de espírito e impor regras de transparência e prestação de contas que não estavam nos nossos hábitos colectivos.
Do mesmo modo o conhecimento destas estatísticas ao longo do tempo constitui uma ferramenta indispensável para avaliar as políticas públicas e construir uma cultura de responsabilização, de prestação de contas e de prémio ao mérito. Neste ponto as últimas duas décadas distinguem-se da nossa cultura tradicional avessa à avaliação e à distinção em função do sucesso. Uma certa obsessão igualitarista, de que comungam sectores ideológicos opostos no espectro político, tem conduzido ao nivelamento por baixo, donde resulta que a diferenciação é vista com desconfiança, senão com hostilidade mesmo.
Mas também aqui a pertença à União Europeia alterou o paradigma da avaliação: do paroquialismo tradicional português vamos evoluindo (embora às vezes com uma lentidão exasperante...) para uma visão cosmopolita da vida e do mundo. Cada vez mais os termos de comparação (o famoso benchmarking, de que se fala na Estratégia de Lisboa) já não se confinam aos estreitos limites das nossas fronteiras nacionais mas antes passam a ser aferidos em termos relativos e desde logo em primeira linha face à evolução média da União Europeia alargada.
Ora, durante o ano de 2006 muitas das comparações estatísticas divulgadas revelaram sem apelo nem agravo as vulnerabilidades, insuficiências e erros da nossa conduta colectiva nestas últimas duas décadas. A par de casos de sucesso inquestionável (a quebra da taxa de mortalidade infantil, a taxa de penetração da banda larga, a premiada "empresa na hora", o cartão único do cidadão, a melhoria das acessibilidades em eixos viários fundamentais entre outros), vários indicadores suscitam perplexidade ou seriíssima preocupação (nível de qualificações da população, quebra da natalidade, elevada taxa de abandono escolar, empobrecimento relativo e aumento das desigualdades sociais, índice elevado de pobreza, designadamente na população mais idosa, entre outros).
O cotejo dos casos de sucesso e dos índices que nos envergonham provoca a sensação do duche escocês: ora quente ora frio, numa sucessão interminável que parece não permitir a estabilização da nossa temperatura colectiva.
Vêm estas considerações a propósito de alguns balanços de fim de ano levados a cabo nesta última semana. Como de costume, as opiniões dividiram-se: do lado do Governo o tom optimista (cumpriram-se as metas do ano do Pacto de Estabilidade e Crescimento, o crescimento económico ficou em boa medida a dever-se ao aumento das exportações, as despesas das famílias na quadra natalícia evidencia confiança no futuro da economia, a bolsa portuguesa cresceu 30% durante o ano) e do lado da oposição insistiu-se nas tónicas negativas (a divergência com a União Europeia persistiu, o PIB per capita diminuiu dois pontos percentuais, ampliou-se o endividamento das famílias).
O cidadão ouve uns e outros e tem a sensação de que assim não sai do duche escocês!
Mas ainda que espartilhado entre sentimentos contraditórios, alimentados pelos discursos políticos, ao fechar os olhos e ao sentir-se afagado por estes dias de luminosidade solar sem par, o português comum sabe que por muitas que sejam as dificuldades a solução não pode ser a de desistir! Saudades só as podemos ter do futuro!
Feliz Ano Novo!
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Notas: a leitura do que são as possibilidades futuras em cada período supõe reconhecer que as transformações nas esferas da produção e da actividade económica têm de ser analisadas em articulação com as demais transformações que se desenvolvem no plano social. No seu quadro de expectativas e na forma como se legitimam à luz das linhas de orientação política e se justificam na ordem social. O objectivo da análise deverá ser essa produção de sentido interpretativo desses dois tipos de interpretação/transformação, articulando o que se passa na tecnologia e na economia com o que se passa na sociedade e na recomposição dos grupos sociais. Talvez por isso, António Vitorino nos fala duma miríada de indicadores, de estatísticas (apesar de nem uns nem outros chorarem) e, por vezes, ocultam mais do que esclarecem. Mas a responsabilidade do analista não é a de adivinhar o futuro ou ser bruxo, essas são tarefas para os zandingas & gabriel Alves do nosso burgo com ramificações à Europa. Mas sim a de seleccionar alguns factos e elementos que sejam úteis para produzir uma interpretação de futuros possíveis, mesmo que para isso tenhamos todos de reformular papéis (antigos, outros recentes) para encontrar interpretações que foram propostas para esses factos e elementos quando eles surgiram ou quando foram analisados isoladamente. Hoje, ao invés, sob o efeito do método da comparabilidade estatística potenciado pela lente-maior da globalização competitiva - tendemos a analisar prospectivamente esse campo de futuros possíveis, ainda que para isso encontremos a ironia do espelho retrovisor da história que nos diz que ao olharmos para o que pode ser o futuro somos obrigados a ver o passado numa nova perspectiva. Afinal, como diria o filósofo Merleau-Ponty - a verdadeira Filosofia é reaprender a ver o mundo.

Isaiah Berlin

Segundo Isaiah Berlin, “a meta da Filosofia é ajudar os homens na compreensão de si mesmos e assim operar na claridade, e não loucamente, no escuro”.
    • Dedicado à sua memória e ao muito que nos legou.

quinta-feira

Fomento à família. Ir ao bowling para jogar sózinho

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A notícia d'ontem oriunda da Alemanha acerca das medidas de apoio à família dão que pensar, até numa perspectica comparada. Vinte e cinco mil euros é quanto o Estado alemão concede a cada família que tenha um filho a partir de jan. de 2007, se julgo ter percebi bem.
Num mundo inteiro a família entrou em crise, a ordem decrescente dos seus membros é ruinosa para todas as indústrias (alimentar e de lacticínios, vestuário, serviços vários) que acabam por ter um impacto socioeconómico negativo. Na origem deste colapso estão os divórcios e separações, o desemprego, a falta de dinheiro, a falta de auto-estima e o mais.
As famílias, à semelhança das outras organizações, estão a atravessar o seu momento de crise. Especialmente pela falta de tempo, espaço e estrutura. Ou seja, muitas crianças crescem hoje com vários pais e várias mães, algumas meias-irmãs, com a qual nem sequer se dá. Com relações plurilocalizadas na outra ponta do mundo. Depois crescem, e já não trabalham para um só patrão, numa só empresa, não se fidelizam a nada, as lealdades são sempre múltiplas.
Tudo isso revela que o conceito de família tradicional que não passa duma memória, duma heresia do tempo. E até parece, heresia das heresias, que as pessoas mais empenhadas na instituição do casamento são precisamente os homosexuais, pasme-se! Copiando a forma de vida dos heterosexuais. Agora vem os bónus à natalidade. Na Alemanha, na França - que sempre endeusou a família, prática que remonta ao Código Napoleónico de 1804 - em que se defendia que a família ultrapassa a lógica económica.
A conclusão aparente a que se chega é aquilo que se vê: a fragmentação, o individualismo, o isolamento.. São estas as novas realidades sociológicas. É como admitir conhecer muita gente, ainda assim as pessoas sentem-se sós. É o fenómeno da multidão solitária que H. Marcuse e David Riesman falavam na década de 70. As pessoas hoje estão sózinhas numa saleta apinhada de gente, é triste reconhecer isto. Mas não o fazer é assobiar ao coxixo, como diria o outro. Temos muitas redes, mas estamos famintos de sentido de comunidade. Mais do que a rede, fomos apanhados na teia.
E a teia é, segundo a expressão feliz de Robert Putnman, Bowling Alone, quando descobriu na década de 80/90 - que as pessoas nos EUA iam jogar bowling sózinhas auamentaram cerca de 10%. Enquanto que o número de pessoas a jogar bowling em equipas federadas diminuiu cerca de 40%. Números que nos deixam a pensar. E nós até já imaginamos o que muita mulher portuguesa pensaria fazer se o Estado Português se comportasse como a Alemanha. Muitas delas pediam aos maridos, amigos, namorados que fossem com elas jogar - não bowling - mas ao bilharau...

Jorge Xavier - um Homem de Carnaxide -

Jorge Xavier é angolano e tem entre 32 e 39 anos, mas sabe que nasceu a 8 de Janeiro, embora não possa precisar o ano de nascimento. É um homem pacato, dócil e extremamente educado, sempre pronto a ajudar quem precisa. Vive na companhia exagerada da uva (em estado liquido), dorme onde calha - ao sol, ao frio e à chuva. Não será difícil perceber que não vive num duplex ou numa vivenda e não tem projecto de vida.

Zigue-zagueia um pouco, o que é normal, atendendo à ingestão exagerada do sub-produto da uva que o mantém quente e protege do frio do Inverno. Veio de Angola de avião com o padrinho faz tempo. Hoje, Angola pouco ou nada lhe diz, o padrinho nunca mais o viu.

Fiz-lhe uma pergunta entre o estúpido e o primário para lhe apalpar o pulso:

- P: Se fosses rico o que farias?

- R: "Ajudava umas pessoas qu'eu cá sei, e depois ajudava-me a mim."

Confesso que fiquei a admirá-lo ainda mais. Se publico aqui estes instantes é porque, em primeiro lugar, obtive dele a sua autorização; depois porque seria útil que esta situação, de todos conhecida, uma vez que o Jorge Xavier é tão conhecido em Carnaxide como Isaltino Morais (IM) em Oeiras - chegasse aos serviços sociais da autarquia de Oeiras, quiça mesmo ao edil - que, o ano passado, em contexto eleitoral, até me chegou a responder na imprensa a um artigo que eu próprio tinha escrito, com fair-play, diga-se de passagem. Ausência de fair-play é o facto de certos livros não entrarem em certas livrarias, mas este não é o momento adequado para o explicitar.

Estou em crer, apesar de não ter votado IM nem apoiado a sua candidatura - que irá olhar para este caso e dar-lhe alguma atenção social. Pois não quero crer que os natais só são importantes quando coincidem com natais eleitorais, e até é sabido que o edil é um homem com sensibilidade social para cuidar destes e de outros casos que desconheço no Concelho de Oeiras.

Julgo que não seria difícil encontrar uma finalidade social para este homem em busca de projecto e de integração social. Oeiras já é exemplo em tanta coisa, também poderia ser sensível a este tipo de situação.

Por último, Jorge Xavier gosta tanto de Eusébio e de Pelé que não conseguiu eleger o melhor. Jorge Xavier já é uma personalidade do Macroscópio - e quem o quiser contactar basta ir a Carnaxide que o encontra de certeza. Anda sempre por aí...
Se virmos bem Xavier é tão parecido com Kofi Annan que até podia confundi-los.

O balanço da 6ª feira. O saldo (positivo) de Kofi Annan

Kofi Annan - começou como quase todos os altos funcionários da ONU, com o apoio da República Imperial (como Raymond Aron cunhou os EUA num livro maior da politologia contemporânea), o que revela como os Estados - e os EUA em especial - são importantes na tomada de decisões da Organização formada após a II Guerra Mundial com o fito de estabelecer a paz e a segurança internacionais no mundo - no rescaldo da guerra recente do que fora o nazismo alemão, o fascismo italiano e o nacionalismo expansionista nipónico - numa experiência a não repetir.
Agora que está de despedida - cumpridos que foram os seus 10 anos à frente da ONU (2 mandatos) - julgo que o balanço é francamente positivo, e só não o é mais devido ao papel hegemónico dos EUA na condução dos assuntos internacionais, impondo a maior parte das vezes a sua própria visão unilateral e bélica. Quando assim é - é a razão da força que se impõe, não a força da razão. E o Secretário-Geral, qualquer que ele seja, só tem três tipos reacções a seguir: 1) agacha-se o obedece cegamente; 2) navega em águas turvas sem fazer grandes ondas para se manter no poder; 3) ou assume a ruptura e termina o seu mandato mais cedo. Kofi Annan - geriu algumas cumplicidades, estancou algumas raivas, omitiu algumas vontades, mas nunca foi cobarde nem sabujo perante o Império que tudo cilindra. Fez s suas críticas ni timing que entendeu mais adequado, mas nãao deixou de as fazer. Foi, portanto, aquilo que sempre foi: um diplomata.
Se Timor-Leste foi um dos melhores momentos - porque juntou a sua vox à da libertação daquele amargurado e oprimido povo, que contou também com o apoio activo de Bill Clinton (seduzido por António Guterres,líder da Internacional Socialista) a guerra ao Iraque deve ter sido a antítese desses 10 anos de mandato como SG da ONU. A reforma da Organização - que hoje ainda fica paralisada pelos "quereres" e caprichos dos 5 grandes detentores da bomba atómica - é, talvez, a maior das frustrações e factores de bloqueio para o futuro. Mas como se pode fazer uma Reforma daquelas contra as vontades dos "reformados"? É, na prática impossível. É como pedir ao neto que compreenda a velhice do avô; ou a este que brinque com o mesmo fulgor com que o faz o seu neto no banco do jardim numa tarde de Verão... É da natureza das coisas.
Ou seja, como é que um alto funcionário da ONU, cujo mandato é sempre limitado no tempo, vai dizer aos EUA, RPC, França, RU e Rússia - que amanhã têm de integrar esse club restrito a Alemanha, o Brasil, a Índia, o Japão ou qualquer outra potência regional que aspire a ser membro do Conselho de Segurança da ONU - órgão que decide das condições da guerra e da pax a cada momento crítico?!. Esta é, certamente, uma reforma das reformas, e só pode ser implementada com a anuência de todos, caso contrário sossobrará. Creio mesmo que uma reforma deste fulgor só pode ser realizada se for imposta por alguma circunstância excepcional, i.é, por um acontecimento não previsto que a imponha de fora para dentro. Até lá gerem-se os conflitos correntes.
Mas isso não dispensou o lamento de Kofi - pelo facto dos EUA terem invadido o Iraque à margem do CS da ONU e do direito internacional público vigente - ante a incapacidade da Organização impôr a sua própria vontade. Foi como se tivéssemos regressado à lógica da Guerra Fria. Mandam os que podem, obedecem os que têm de obedecer. Foi assim em 2003 - numa farsa em que o cherne de Bruxelas também participou. E como prémio por essa cumplicidade foi promovido - via Blair - a ir para a Comissão Europeia - onde hoje paralisa a Europa e faz dela um apêndice dos EUA e o bloco económico com menos taxas de crescimento do mundo. Eis o legado de durão barroso na Europa - embora lá tenha sido colocado pelas "razões estratégicas" que ditaram a guerra ao Iraque, o Vietname do séc. XXI, mas com menos floresta.
Pelo meio, claro está, há sempre sombras, zonas de incerteza que mancham um perfil político e uma actuação no terreno. Desgraçadamente foi isso que fez (alegadamente) o seu filho - aquando da campanha de ajuda humanitária designada petróleo por alimentos - cujos inquéritos não foram claros, como sempre sucede nestas situações. É o que dá meter a "família no negócio", pairou sempre uma desconfiança tremenda de corrupção financeira nessa operação. Levando mesmo Annan, que é um homem superiormente inteligente e sensível, a ironizar com a questão - dizendo - que esperava que a ONU fosse mais do que isso: petróleo por alimentos, ou uns trocos para o seu filho Kojo - que ajudou a enterrar a credibilidade política do Pai em directo diante os olhos do Mundo.
Mas as suas preocupações presentes nos objectivos do Milénio - designadamente em matéria ambiental, controle de armamento, desenvolvimento podem ajudar a equilibrar o prato da balança quando em Janeiro de 2007 o sul coreano - Ban Ki Moon - assumir os comandos da ONU. Veremos se aí pesará mais o perfil duma ONU enfraquecida e descredibilizada pelos EUA - que levou a cabo a guerra ao Iraque - por capricho e estupidez natural - ou se, à contrário, aqueles objectivos desenvolvimentistas do Milénio falarão mais alto na hierarquia de forças mundial.
É curioso, mas o que verdadeiramente penso deste diplomata é que - em si - não existe bom ou mau, é apenas o pensamento que decide. O importante, creio, é que as pessoas têm hoje de formar a sua própria opinião acerca das mudanças por que passa o mundo e acerca do tipo de futuro que pretendemos criar. Isto deve-se, provavelmente, não apenas à velocidade dos acontecimentos e sua cobertura instantânea pelos media globais (ou seja, em tempo real e programado) mas também, e acima de tudo, porque o Futuro é já uma unidade cronológica com maior relevância social, política, económica e até cultural do que o Presente.
Confesso, por último, que aquela capacidade (de lagarto-ao-sol) que Kofi tem para nunca se enfurecer - não sei se tem mais vantagens do que desvantagens. Geralmente, aqueles que nunca se enfurecem são sempre maus predadores, mas há sempre excepções...

Incentivo à natalidade na Alemanha

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As grávidas alemãs estão a atrasar os seus partos de propósito, para que nascimento das crianças coincida com um novo e generoso esquema de segurança social, que o Estado irá providenciar a partir de 1 de Janeiro de 2007. (...)

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Obs: estou desconfiado que se a medida fosse aplicada em Portugal, mesmo que com 1/3 daquela valor, os períodos de gavidez dilatariam (ou encurtariam) os meses que fossem necessários para coincidir com a legislação em vigor. Nesse contexto, teríamos gravidezes de 12 meses, de 4, 6, 8 e até de 15 dias. E muito homem que anda por aí mudaria de sexo e transformar-se-ía em barriga de aluger. De facto, o mundo além de estar em mudança, também está louco... É a loucura da vida. E qualquer dia encomenda-se a morte em directo, e no Norte alguns dirigentes desportivos parece até que já solicitaram esse tipo de serviços às respectivas namoradas (e acompanhantes) - que depois têm grandes sucessos editoriais. Afinal, nunca se deve confundir o dinheiro - esse vil metal, com uma gravidez e um livro. Pior do que isto só sequestrar o Papa e depois pedir ao mundo 1 euro pelo resgaste - com o fundamento de que esse resgate fosse atendido e o resultado da receita revertesse precisamente para um saco azul do Estado - de molde a que este pudesse continuar a apoior pró-activamente as suas criaturas parideiras. Desgraçadas mulheres... Quando não as colocam a mostrar os seios e as nádegas nas ruas de Lisboa com 5º - pedem-lhes que tenham uma abundância de gravidez.