quinta-feira

Portugal vai candidatar António Vitorino à presidência da Organização Internacional para as Migrações


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Nota prévia: Creio que Portugal, através do Governo em funções, não poderia ter identificado melhor candidato para lançar à OIM do que o próprio António Vitorino. Não por já ter sido MDN ou eurodeputado  e uma vasta experiência política, mas, acima de tudo, por "trazer mundo dentro de si", circunstância que lhe permite em cada reflexão, em cada intervenção pública (ou publicada) ou ainda em cada decisão, reflectir um conhecimento especializado e sistémico de conhecimentos acerca da problemática da imigração neste 1º quartel do séc. XXI. Um tempo em que se estima que cerca de 200 milhões de migrantes circulem mundialmente, e, num nível nacional, em Portugal (país de candidatura e vocação universalista), o debate centra-se em torno do impacto que terá cerca de meio milhão de imigrantes, os quais representam qualquer coisa como 10% da população trabalhadora e 5% do total da população nacional. Dados fundamentais para o nosso mercado de trabalho e a sustentabilidade da nossa economia. Em rigor, o nosso progresso e desenvolvimento depende, hoje, da imigração. 

Por outro lado, e esta é uma realidade que António Vitorino conhece como ninguém, é que desde há 30 anos a esta parte Portugal alterou o seu perfil no mundo, ou seja, de um país de emigrantes passou para um país de imigrantes (com um intervalo suicida da Troika potenciado pelo Governo mais austeritário de Portugal - 2011-15, pela mão de Passos Coelho - que convidava os seus concidadãos a emigrarem); de exportadores de massa crítica Portugal passou a ser um país acolhedor de recursos humanos essenciais à nossa economia e sociedade, hoje profundamente envelhecida e a carecer de urgente renovação. 

Estes problemas demográficos (e de segurança social, de educação, de produtividade, etc) colocam sérios dilemas à governação, já que obrigam a uma constante redefinição de políticas públicas para a área da imigração, e uma pessoa com o perfil técnico e político de António Vitorino poderia responder à altura da complexidade e dos desafios que mais de 200 milhões de pessoas colocam diariamente, a cada hora e minuto, apenas por circularem fora do seu país de origem. 

Resultado de imagem para ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DAS mIGRAÇÕESDevemos reconhecer, para concluir esta nota acerca da melhor opção para liderar hoje a Organização Internacional para as Migrações (que contará, certamente, com o apoio de António Guterres, SG-ONU) que um dos aspectos cruciais colocados por este novo (velho) fenómeno, decorre da questão de saber que tipo de imigração pretendemos: a que drena massa crítica (brain drain) para o exterior, e na qual muitos países tanto investiram, ou naquela opção societal que consegue atrair e fixar esses recursos humanos (brain gain), necessários ao desenvolvimento das sociedades. 

Creio, pois, que são desafios desta natureza, além daqueles mais prementes como os relacionados com os refugiados e a ajuda humanitária, que países como Palestina, Somália, Afeganistão, Paquistão e, mais recentemente a Síria coloca (decorrentes de guerras civis prolongadas potenciadas com terrorismo), e que questionam directamente a vida, a que o ex-Comissário Europeu (da Justiça e Assuntos Internos, por sinal reconhecido como o melhor de entre os seus pares) pode e deve responder, em estreita articulação com a ONU, de cuja organização maior depende. 

Numa palavra: António Vitorino poderá representar a candidatura mais eficiente a essa importante organização internacional, porque condensa em si as dimensões mais críticas que racionaliza as componentes dos direitos humanos, da diversidade cultural e da necessidade de as sociedades e as economias buscarem quadros de desenvolvimento, de bem-estar e paz permanentes. O que requer, como sinalizámos acima, alguém especialmente dotado, como é o candidato, para estabelecer essa ponte e fazer, no plano do decision making process esse cross-fertilization de políticas públicas relativas ao fenómeno mais complexo e problemático do nosso tempo, depois do terrorismo globalitário. 

Por estas razões, e outras que oportunamente desenvolveremos, desejamos aqui sorte ao candidato e ao país proponente: PORTUGAL. 



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Portugal vai candidatar António Vitorino à Organização Internacional para as Migrações

Portugal vai candidatar António Vitorino à presidência da Organização Internacional para as Migrações. A candidatura está a ser preparada pelo Governo para as eleições marcadas para junho do próximo ano.[link, RTP]

António Vitorino tem 60 anos, é advogado e foi juiz do Tribunal Constitucional. No plano político desempenhou vários cargos. Foi deputado e eurodeputado eleito pelo Partido Socialista e assumiu também os cargos de ministro da Presidência e ministro da Defesa no Governo de António Guterres.


António Vitorino foi ainda Comissário Europeu da Justiça e dos Assuntos Internos entre 1999 e 2004. Vai ser agora o rosto português na corrida à liderança da Organização Internacional para as Migrações, uma instituição que pertence às Nações Unidas.



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domingo

O desnorte de António Costa: à mulher de César não basta ser séria...

Governo dum homem só, sem coordenação e comunicação política

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Uma iniciativa atípica


- À mulher de César, não basta ser séria...
- Creio haver aqui uma confusão de papéis entre pessoas e instituições, e mesmo que a intenção da Univ. de Aveiro, e de Carlos Jalali, tenham sido as melhores, o risco desta iniciativa se politizar e fazer crer à opinião pública que aquela universidade será, doravante, politizável/instrumentalizável, é elevado.
- Ou seja, o papel e vocação da Universidade é o de produzir, divulgar e partilhar conhecimento, mas não em interacção directa com o Governo (fazendo balanços com ele), através dum estudo de opinião - intermediado por uma empresa de sondagens que terá sido a responsável pela selecção dos inquiridores ao Governo.
- Parece-me, pois, um modelo de inquirição tão atípico quanto contraproducente e perigoso e expõe a Universidade de Aveiro, os seus organizadores, incluindo aqui a Aximage (empresa de sondagens) numa posição em que parece todos estarem "comprados" pelo Governo. Mesmo que, de facto, isso não aconteça dessa forma.
- Com Max Weber, que carlos jalali deve ter estudado (!!), todos sabemos que a isenção e a imparcialidade política puras não existem, pois todos tomamos parte em algo, e mesmo no plano científico todos têm gostos e assumem preferências ideológicas, intelectuais, pessoais, doutrinárias e politico-partidárias, pelo que este tipo de balanço é, primacialmente, feito no âmbito da lógica Parlamentar, ou no quadro de debates públicos organizados pela sociedade civil, como o fórum da TSF, ou em conferências sobre temáticas políticas em que o Governo não intervenha directa. Até porque a opinião que o Governo terá dele próprio e das suas medidas e políticas públicas só pode ser, obviamente, positivo. É como por um juiz a julgar um caso em que o seu próprio filho é o arguido...
- Portanto, este modelo de inquirição, salvo melhor opinião, não funciona por ser pouco isento, pouco objectivo, parcial e não haver distanciamento entre o Governo e a coisa governada, que são os portugueses e as suas necessidades, anseios e expectativas. Admira-me, pois, que um politólogo como Carlos jalali, não compreenda esta coisa tão básica!!! Relativamente à Aximage - trata-se duma empresa de sondagens, quer é fazer dinheiro, pelo que qualquer coisa serve para facturar.
- Tanto mais que aqui estão envolvidos recursos financeiros, o que agrava e (pode) contaminar este modelo ou formato de evento mediático, e que pode levar todos, ou muitos, a pensar que o Governo ensaiou aqui, com a ajuda da UA e da Aximage - uma campanha de charme junto da opinião pública (e publicada) com o fito de melhorar a sua imagem política e, com isso, granjear mais simpatias junto do eleitorado real e potencial. Já que esse mesmo Governo viu o seu estado de graça "queimado" nos fogos de Pedrogão Grande, nessa coisa caricata de Tancos, na tragédia da legionella e, doravante, na forma como a deslocalização do Infarmed está sendo feito de Lisboa para o Porto, numa política sobre o joelho, e que surpreende em A. Costa.
- De tudo resulta o enunciado: à mulher de César não basta sê-lo, tem de o PARECER.

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George Seurat - Uma tarde de Domingo. Sérgio Lopes - O carregador de flores



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Georges SeuratUma tarde de Domingo na Ilha da Grande Jatte.



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Sergio Pinheiro Lopes: O Carregador de Flores


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quinta-feira

Evocação de A. Maria Lisboa - A metaciência da sua misteriosa poesia -

A. Maria Lisboa - sempre numa busca incessante de um futuro tão antigo como o passado.

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Projecto de Sucessão

Resultado de imagem para antonio maria lisboaPara o Mário Henrique 

Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua 
continuar deitado até se destruir a cama 
permanecer de pé até a polícia vir 
permanecer sentado até que o pai morra 

Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária 
amar continuamente a posição vertical 
e continuamente fazer ângulos rectos 

Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora 
por-se nu em casa até a escultora dar o sexo 
fazer gestos no café até espantar a clientela 
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia 
contar histórias obscenas uma noite em família 
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro 
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina 
deixar fumar um cigarro só até meio 
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias 
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se índias. 

António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas" 
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Rêve Oublié

Neste meu hábito surpreendente de te trazer de costas 
neste meu desejo irreflectido de te possuir num trampolim 
nesta minha mania de te dar o que tu gostas 
e depois esquecer-me irremediavelmente de ti 

Agora na superfície da luz a procurar a sombra 
agora encostado ao vidro a sonhar a terra 
agora a oferecer-te um elefante com uma linda tromba 
e depois matar-te e dar-te vida eterna 

Continuar a dar tiros e modificar a posição dos astros 
continuar a viver até cristalizar entre neve 
continuar a contar a lenda duma princesa sueca 
e depois fechar a porta para tremermos de medo 

Contar a vida pelos dedos e perdê-los 
contar um a um os teus cabelos e seguir a estrada 
contar as ondas do mar e descobrir-lhes o brilho 
e depois contar um a um os teus dedos de fada 

Abrir-se a janela para entrarem estrelas 
abrir-se a luz para entrarem olhos 
abrir-se o tecto para cair um garfo no centro da sala 
e depois ruidosa uma dentadura velha 
E no CIMO disto tudo uma montanha de ouro 

E no FIM disto tudo um Azul-de-Prata. 

António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas" 

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Z

As formas, as sombras, a luz que descobre a noite 
e um pequeno pássaro 

e depois longo tempo eu te perdi de vista 
meus braços são dois espaços enormes 
os meus olhos são duas garrafas de vento 

e depois eu te conheço de novo numa rua isolada 
minhas pernas são duas árvores floridas 
os meus dedos uma plantação de sargaços 

a tua figura era ao que me lembro da cor do jardim. 

António Maria Lisboa, in "Ossóptico e Outros Poemas"

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quarta-feira

Evocação de Cecília Meireles



Em mim, não vejo começo nem fim
CM

Eu não tinha este rosto de hoje,
Assim calmo, assim triste, assim magro,
Nem estes olhos tão vazios,
Nem o lábio amargo.
Eu não tinha estas mãos sem força,
Tão paradas e frias e mortas;
Eu não tinha este coração
Que nem se mostra.
Eu não dei por esta mudança,
Tão simples, tão certa, tão fácil:
— Em que espelho ficou perdida
a minha face?
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